Logo que a notícia de mais um atirador massacrando
estudantes nos Estados Unidos da América veio para a mídia internacional,
emissoras de televisão brasileiras passaram a fazer transmissão direta com
aquele país. A Globo News entrevistou um brasileiro que mora na vizinha cidade
do massacre e ele traçou um perfil do morador daquele distrito de Connecticut.
O perfil da cidadezinha Newtown onde o massacre ocorreu: é uma cidade pacata,
ocupada por pessoas de alta classe média que trabalha em Nova York. Gente muito
educada. As crianças são educadíssimas, muito respeitosas e preparadas.
E foi esse perfil que gerou um jovem que matou a mãe, matou
20 crianças entre 5 e 10 anos e mais outros adultos. Temos três coisas a
considerar: a) como esta patologia bio-psicossocial surge; b) qual a causa desse
massacre tomar as dimensões que toma; c) como isso funciona na psicologia
social humana, especialmente no EUA.
Apesar dos estudos que analisam padrões do surgimento desses
assassinos que geralmente vão ao ato do suicídio a verdade é que do ponto de
vista do seu controle, incluindo detecção precoce, tratamento e ajuste à
sociedade, ainda deixa muito a desejar. Pelo menos é o que notícias como essa
levam à conclusão.
Mas isso tem um viés central: muito da percepção vem da
tragédia pela extensão dos massacres. E não estamos apenas falando em controle
de indivíduos com esses padrões. Não estamos porque uma causa central da
extensão do problema é a arma de fogo. Basta comparar com casos ocorridos na
China que parecem semelhantes em comportamento patológico, mas a extensão é
mínima quando a arma do ataque no máximo é uma faca.
O EUA tem praticamente uma arma para cada cidadão. Isso é
uma sociedade que possui uma máquina de morte para cada um e por consequência,
todos estão armados contra todos. É uma ilusão que iremos proteger a vida
quando as lanças apontam para o peito de todos. Vamos é produzir mais mortes do
que se não existisse todo esse arsenal.
A evidência é tanta que comparando estados que têm algum
controle no porte de arma, existem menos assassinatos por tais armas do que
aqueles que tão têm controle nenhum. E a situação americana se eleva ao padrão
político: o filme “Tiros em Columbine” do diretor Michael Moore expõe
claramente o lobby das armas nos EUA e de modo patético para minha geração,
expôs o papel negativo do ator de cinema Charlton Heston.
E como tudo funciona na psicologia social da humanidade e em
especial dos americanos? Antes, basta não esquecer o episódio de Realengo aqui
no Rio de Janeiro quando um jovem de 24 anos matou onze estudantes. O que fica
de efeito é o terror em estado bruto. Enquanto os carros bombas e os assassinatos
seletivos geram ação política e revolta para um discurso político, esse que
aconteceu ontem leva ao terror sem ação. Ele essencialmente transforma o ser
humano em bicho do ser humano.
O mais dramático é revelar a compulsão de final dos tempos:
jovens matando crianças na primeira infância. Quando as crianças são
aniquiladas não existe mais futuro. É equivalente à sensação de fim de mundo. É
desesperançador. E tudo toma ares de impotência quando um dos políticos mais
importantes da atual civilização, Barack Obama chora frente à rede mundial de
comunicação demonstrando sua total fragilidade humana.
Mas é engano. A fragilidade é a contradição com os lucros da
indústria de armas de fogo. Se for impossível detectar todos aqueles com
compulsão de morte, é possível lhes tirar o poder de massacrar em grande
número. Ou não é por isso que basicamente apoiamos o controle das bombas
atômicas?
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