Como até um índio de
uma dessas tribos fincadas na mais recôndita área do “Alto Xingu” deve saber, o
poder de influência de uma televisão é, indiscutivelmente, algo sério e
determinante, porquanto tanto pode alavancar como destruir reputações, eleger
um desconhecido ou acabar com o político tradicional que se julgue inatingível,
catapultar do anonimato um desconhecido qualquer elevando-o aos píncaros da
glória e por aí vai.
Pois bem, depois de
tudo o que assistimos nos últimos dias, não há como não desconfiar que, quando uma
emissora de televisão do porte da Rede Globo (uma concessão governamental,
lembremo-nos), que cobre todo o território nacional, detém a liderança da
audiência e onde 30 segundos de inserção comercial custam os “olhos da cara” optou
por renunciar a tal receita (suprimindo a veiculação de qualquer propaganda por
cerca de quatro/cinco horas ininterruptamente, contemplando inclusive o seu
horário nobre) e, valendo-se de todo o seu exército de correspondentes dedicou-se
a um único tema (as manifestações, em todo o país), provavelmente buscava
atingir a mais sórdida das intenções: um levante popular de peso objetivando estimular
um “golpe” contra um governo democraticamente eleito. Ou não foi isso que
acompanhamos durante os últimos dias quando da eclosão do movimento paredista
que, iniciado em São Paulo e após a entrada em campo “full time” da Rede Globo
espraiou-se como um rastilho de pólvora por todo o Brasil, de norte a sul,
leste e oeste ???
E aqui cabe uma
ressalva: claro que o objetivo primeiro do movimento paredista (barrar o
aumento abusivo no transporte coletivo) foi e é perfeitamente justificável,
assim como ficou evidente que faltou jogo de cintura às “autoridades competentes”
(de São Paulo) que pisaram feio na bola e, conseqüentemente, devem ser
responsabilizadas pelo acirramento dos ânimos, ao procrastinarem uma decisão
que, ao fim, acabaram por ter de tomar: o recuo do aumento nos preços das
passagens de ônibus, trem e metrô.
Pois, foi justamente no
vácuo propiciado pela irresponsável demora em decidir, que o movimento paredista
engrossou, houve a entrada de oportunistas e irresponsáveis novos atores em
cena, pautas outras foram agendadas às pressas e, enfim, se deflagrou o caos, a
balbúrdia e por muito pouco beiramos o anarquismo.
É oportuno ressaltar
que, apesar dos notáveis avanços, principalmente na área social, obtidos desde
o primeiro governo Lula até os dias atuais (reconhecidos aqui e lá fora), em sã
consciência ninguém pode concordar com determinadas coisas e situações que aí
estão postas, e que figuras abjetas e desprezíveis da estirpe de um Sarney,
Renan, Agripino e outros se achem na posição que ocupam; só que não podemos
esquecer terem sido ungidos pela vontade soberana do povo e, portanto, temos de
suportá-los até que uma ampla reforma política seja providenciada.
E aqui (mesmo que “por tabela”),
chegamos ao mérito maior de tal movimento paredista: forçar a que se desfralde
a bandeira de uma mudança radical no nosso sistema político, com a inclusão de
dispositivos que permitiam ao próprio povo “destronar” aqueles que, postos no
trono por ele (povo), não correspondam à expectativa depositada; assim, através
de uma espécie de “recall” político, tal medida seria imediatamente efetivada e
os “reprovados” dispensados, de pronto. Só que aí teríamos que contar com a boa
vontade dos próprios congressistas (votariam contra seus próprios interesses
???), a fim de emendarem a Constituição Federal e/ou convocarem uma Assembléia
Constituinte para tratar a respeito.
Não é de estranhar,
pois, que a presidenta Dilma Rousseff, que vivenciou tal quadro em sua
juventude e conhecedora de onde poderia desaguar tal movimento, não se tenha
deixado levar pela “corda” que lhe foi dada pelos próprios manifestantes (reagir
de forma impulsiva e violenta) se antecipou e, pacientemente, além de elogiar e
reconhecer a legitimidade das manifestações, de par com medidas pontuais (considerar
a corrupção um crime hediondo, por exemplo) tomou a iniciativa de sugerir a
adoção de um plebiscito popular visando aprovar tal dispositivo (Constituinte
exclusiva). Deixou claro, ainda, Sua Excelência, que os excessos a partir de
então terão que ser coibidos, porquanto soa injustificável a depredação do
patrimônio público, bem como o impedimento do ir e vir das pessoas.
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