TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

domingo, 11 de agosto de 2013

O "Parque do Cocó" (final) - José Nilton Mariano Saraiva

Apesar de ser uma das poucas áreas verdes dessa autentica “selva de pedra” em que se transformou a cidade de Fortaleza e, conseqüentemente, diretamente responsável pela série de benefícios daí advindos, o “Parque do Cocó” sempre foi tratado como um filho bastardo pelos detentores do capital, assim como pelas autoridades constituídas (Governo do Estado e Prefeitura de Fortaleza).

Assim, espelhando-se no mau exemplo dado pelo proprietário do Shopping Iguatemi que, lá atrás, quando ainda não existia essa preocupação toda com o meio ambiente, o erigiu em pleno coração do Cocó, desvirginando-o, sem preocupar-se com o crime que estava cometendo, hoje inescrupulosos empresários da iniciativa privada (segmento imobiliário), brandindo documentos jurássicos e sem nenhuma preocupação com os malefícios daí decorrentes, volta e meia vivem a ameaçar erguer torres de apartamento naquela área nobre, de olho no lucro decorrente.

O poder público, de sua parte, jamais ficou atrás, cujo exemplo mais emblemático foi a construção da Av. Sebastião de Abreu, aqui em Fortaleza, que comporta amplas calçadas (em ambos os lados), largo canteiro central, além das pistas de rolamento (fluxo e contra-fluxo) com cerca de quatro faixas de tráfego cada, daí sua largura total ficar entre 60/80 metros, dividindo o parque em dois, norte e sul. À época, pra “tirar a suja”, hipocritamente decidiu-se que não seria asfaltada, mas, tão somente calçada com paralelepípedo, a fim de evitar a “agressão ao meio-ambiente” (como se a própria construção da imponente avenida não representasse uma incurável cicatriz).

Fato é que, dia-a-dia e paulatinamente, a área do “Parque do Cocó” vem sendo “comida pelas beiradas”, pondo em risco sua própria existência, daí a explosão de descontentamento que eclodiu agora, quando a Prefeitura de Fortaleza (dominada pelos Ferreira Gomes) resolveu, em nome da “mobilidade urbana”,  construir dois viadutos no encontro das avenidas Antônio Sales com Engenheiro Santana Júnior, adentrando a área do parque em 07 metros de profundidade por 240 metros de extensão.

Como a coisa foi feita de maneira truculenta, abrupta e grotesca, sem qualquer discussão ou apresentação de alternativas outras à sociedade, ambientalistas, arquitetos, ecologistas, políticos, parte da população e a própria academia apelaram para o Ministério Público Federal, que, sensível aos argumentos apresentados, proibiu, pelo menos temporariamente, que a obra prosseguisse; e aí a novidade: sob a alegativa de ser aquela área propriedade da União.

O incrível de tudo isso é que, embora tenha sido criado há 24 anos (1989), via decreto governamental que definiu áreas a serem desapropriadas, formal e oficialmente o “Parque do Cocó” não foi ainda “legalizado” (uma das reivindicações dos ecologistas/ambientalistas), porquanto as desapropriações respectivas não foram efetivadas pelo Governo do Estado (em nome da “utilidade pública”), daí a pressão para que este delimite sua área e oficialize de vez sua existência, acabando com a especulação sobre.


A batalha promete ser intensa.  

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