Quando nos apontam o
rumo norte para o nosso destino, a morte abre as suas asas sobre o nosso
desatino. Esta frase deveria ser um eco de razão a toda vez que um
político, um líder ou um cidadão nos aponta os EUA como o nosso modelo de
civilização.
Mesmo que o sonho do sucesso, a segunda chance, o mérito da
conquista, o imenso prazer do consumir e pertencer a uma sociedade em que se
agradece pelos empreendedores privados esteja a alavancar um desejo como compreensão
da liberdade. Mesmo que seja isso, sempre imagine que o Brasil é grande, somos
uma sociedade de mais de 200 milhões, temos uma cultura própria e capacidade de
viver os nossos próprios sonhos e através da liberdade de nos realizarmos pelo nosso
próprio conhecimento e arte.
Já temos problemas demais a enfrentar para desejarmos ser o
gasoduto a alimentar a energia dos problemas dos outros. Os EUA formam um grande
povo, a humanidade deve muito às suas instituições, à sua ciência e cultura.
Mas o mundo tem sido vítima do imperialismo americano com suas agressões,
golpes políticos, usurpação das riquezas, atraso e exploração dos povos e nem
por isso os EUA têm a melhor sociedade. Nem muito inferior aos nossos
problemas.
Os EUA inventaram, FHC e o PSDB embarcaram em seu ideário, a
maneira mais soft de implantar seu “estilo” através do enriquecimento das suas empresas
sobre a economia dos povos como o Brasil. As empresas vêm com toda a
concorrência, mas com o estilo americano de ser (lobbys, holdings, oligopólio
etc.) e para garantir um mercado fluído e sem conflito: inventaram as Agências
Reguladoras. O papel delas é “controlar” o desejo dos consumidores por melhores
serviços e menores preços. Dar um colchão de apoio ao “mercado”.
Leia o primor como os EUA defendem suas empresas através de
trechos de um documento de empresas de fracking de gás de xisto para Ucrânia
(aí toda briga com a Rússia): “Empresas norte-americanas podem investir
diretamente na Ucrânia, levando com elas sua
tecnologia. Empresas ucranianas podem contratar perfuradores norte-americanos com experiência, podem licenciar perfuradoras norte-americanas e
empresas de tecnologia de sondagem sísmica por imagem, e podem importar equipamento norte-americano sofisticado
de perfuração. O governo dos EUA pode estimular este desenvolvimento com
programas patrocinados pelo Estado, como o Programa para Engajamento Técnico
Não Convencional para Gás do Departamento de Estado.
É até óbvio, mas o Governo financia com impostos do povo dos
Estados Unidos as suas empresas para que explorem as riquezas e a economia dos
outros países. E fazem isso por cima de pau e pedra, por isso toda a briga na
Ucrânia. Por isso eles bombardeiam países pelo mundo todo e acusam a Rússia
pela anexação da Criméia como vestais numa noite sem lua. Na verdade toda esta
guerra é que os EUA querem substituir o papel da Rússia como fornecedora de gás
natural para a Europa,pela hegemonia da produção de gás de xisto por fracking.
Nesta altura da nossa história a nossa principal reflexão,
crítica e construção do futuro tem por base a nossa própria história. Não vamos
seguir os passos de ninguém, os nossos problemas precisam ser resolvidos e não
vamos adotar políticas que aumentem estes problemas ou então, retardem as suas
soluções.
Os EUA não servem de espelho para nós os brasileiros. Vejam
alguns dados do seu modelo de ser em alguns tópicos. A) Dois terços da
população de Detroit não pode pagar as suas necessidades básicas e 46 milhões
de americanos estão na pobreza; B) a taxa de mortalidade infantil dos EUA é a quarta
mais alta entre 29 países mais desenvolvidos; C) a taxa de analfabetismo nos
EUA entre adultos é de 14%, 21% dos americanos têm um nível de leitura inferior
à 5ª série de estudo e 19% do diplomados do ensino médio não sabem ler; D) o
sistema de saúde americano ocupa o último lugar em eficiência entre os 10
países mais desenvolvidos e tem o maior gasto per capita entre eles ($8.508).
Ora os EUA são um país bem sucedido e rico. Qual a sua
questão? O modelo político, social e econômico com base puramente no
liberalismo de mercado. Os números que lemos parecem até enganosos pois jamais
imaginaríamos que eles fossem assim, mas são. São pelo excesso de
individualismo, de exploração privada, de acesso por renda, de negócios
lucrativos, de intermediações onerosas como advocacia, segurança e guerras
geopolíticas.
Este modelo, por exemplo, transformou a educação numa mera
fábrica de performance, sem preparar o ser humano e levando a que mães em
desespero usem medicamentos nos filhos abaixo de 10 anos de idade apenas porque
as professoras não encontram a performance que esperam. Isso sem contar a
inúmeras fórmulas para atrair “consumidores”. E como consumidores os americanos
ficam fora do ensino e tem tanta gente crítica ao governo brasileiro pelos
nossos baixos níveis de educação.
O sistema de saúde americano, baseado em planos de saúde, é
uma verdadeira esteira da era fordista, como as faculdades de medicina
preparando especialistas, os laboratórios organizando o ensino, congressos e
sociedades e as operadoras criando fundos que financiam a farra de médicos
ultra-especializados. O grande problema, por exemplo, comparando-se com o
sistema estatal inglês como gasto per capita de $3.405, é que não existem
cuidados primário de saúde, não existe atenção básica, prevenção e promoção da
saúde.
O Brasil precisa de um caminho próprio, especialmente longe
de modelos que se mostram errados. Se não evoluímos para o modelo totalitário
da União Soviética, igualmente, não precisamos adotar este capitalismo do Deus
Mercado. Precisamos de uma união forte e de preparar lideranças que compreendam
esta união e não se torne apenas meros empregas dos grandes negócios americanos.
Uma visão da política do governo Obama, dos presidentes de
vários países por ai, incluindo ex-mandatários é de um salve-se quem puder onde
todos se vendem para os grandes negócios e não atendem às verdadeiras decisões
das sociedades. A posição dura da Polônia contra a Rússia na questão da Ucrânia
é porque todo mundo estava “comprado” para empurrar o negócio do fracking de
xisto. O filho de Joe Binden, vice-presidente dos EUA que lutou muito para a “democratização”
da Ucrânia é diretor da principal empresa ucraniana de energia.
Esse é o mundo da decadência da sociedade de mercado.
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