AS CIDADES VIVIDAS – CARIRIAÇU
Caririaçu
é uma visão, uma composição imaginária, assim como uma flor evidente entre
inúmeras outras do jardim. Na claridade tropical, próxima ao equador, a
acuidade visual não consegue localizá-la, no círculo de serras, que cinturam o
Cariri.
Fincada
no alto da Serra de São Pedro, na face virada para o Vale, Caririaçu foi criada
como aqueles espelhos de bolso, geralmente masculino, redondo, com figuras
eróticas ou emblemas de futebol na face irrefletida. Um dia meu primo Eliezer Feitosa
caiu do cavalo em disparada, sentiu que quebrara o nariz, com a objetividade
sertaneja, tirou o espelho do bolso e repôs o vômer ao lugar correto.
Disse
espelho, mas ela não é um astro que se evidencie no reflexo da luz. Caririaçu é
um pequeno ponto luminoso nas noites do vale, quando a alma, desamparada de
luz, divaga nas luzes elevadas na serra distante, propícias à expansão do
espírito.
De
onde nos encontramos, a cidade parece cantar uma velha melodia italiana a
solicitar: diz-me quando tu virás, diz-me quando...quando...quando. E por certo
vamos marcando o ano, o dia e a hora em que talvez, numa noite vazia, a
beijarei em seu pequenino aceno luminoso.
Caririaçu
fica no gume da Serra de São Pedro. Toda a largura da serra é preenchida pelas
suas curtas ruas. A ela sempre se chega subindo e se vai descendo. E todas as
vezes que o viajante passa ali, guardará, para sempre, um instante, até quando...quando...quando,
de repente a reverá sorridente junto a ele.
Caririaçu
não se faz notar na distância para, na proximidade, ser diferente. Continua
sendo o mesmo ponto luminoso que orienta o vazio do olhar. E na sinceridade
devida a toda fonte de luz, exige que o viajante diga sim, mas revelando o por
que, uma vez que não faz sentido para ela, a vida sem a presença física daquele
que um dia notou as suas luzes na distância.
É
preciso ser um viajante de raiz para perceber a importância de Caririaçu. Três
vias principais são alternativas de viagem. Uma sai de Crato, contornando a
Serra de São Pedro na direção de Farias Brito, a outra sai de Juazeiro para
Barbalha e segue adiante e finalmente aquela que sobe até seu recato urbano.
Aquelas
luzes no alto, no ermo escuro da noite, parece nos solicitar que digamos quando
iremos, numa emoção latina: diz-me quando....quando...quando.
E
nas impressões permanentes da vida os nosso corações serão beijados pela
promessa que não a deixaremos jamais.
Jamais.
A
sedução de Caririaçu com seu flerte de luz noturna.
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