AS CIDADES VIVIDAS – MISSÃO VELHA
Cidades
imaginadas ou “cidades invisíveis” como relevou Italo Calvino se transformam
noutra ficção quando são vividas. A vida não é uma ampulheta, tão somente a
contagem do tempo. Ela a invenção do tempo no espaço das cidades sonhadas que,
cobertas por este sonho, se transformam em vividas.
E
por isso Missão Velha é uma cidade de passagem, sem que nela desabitem as
pessoas e seus modos inerentes de ser. Por lá, nas luzes do espectro do dia, o
transeunte sempre compreenderá tudo que nela há.
Por
Missão mais antiga se compreenda que a nova ao surgir já ela havia passado na
medida da memória. Por ser uma cidade de passagem, assim inventaram uma grande
rua que subia um alto após uma depressão e seguia até o final da passagem por
altos e vales da encosta da chapada.
Ser
de passagem não é apenas um trânsito. Missão Velha tem o dom inerente de
revelar, independente da velocidade do transporte ou até mesmo das passadas,
todo o conteúdo do seu dia-a-dia. Até mesmo dos fatos esquecidos do passado.
Mesmo
sem ser vista na passagem, compreende-se a praça central, a igreja centenária,
o comércio, o velho cinema com seu palco no qual de poderia encenar um drama
épico dos Cariris. Ali um amor em estágio de maturação, mais adiante uma paixão
com todo fervor da descoberta. Um comerciante falido e seus devedores
ameaçando.
Na
velha igreja o monsenhor que surpreendia por ter uma inteligência rara, mesmo
profundo no mundo clássico greco-romano, era um revelador da física
contemporânea com uma rara compreensão dos elementos, das combinações e
sínteses químicas.
No
entanto fosse uma mulher sem mangas ou sem véu à igreja, seria interditada pelo
monsenhor de modo grosseiro, houvesse a interdição na entrada ou uma
retardatária durante o desenvolvimento da missa. Ele pararia a solenidade e a
expulsaria no mesmo ato.
Em
Missão Velha a família Linard surpreende com uma fábrica de engenhos a vapor.
Ali se encontra toda a força dos séculos da modernidade industrial com suas
máquinas de multiplicar forças e trabalho. Ser de passagem é um estado de
espírito em evolução.
E
antes que a passagem termine, indo de leste a oeste ou ao contrário, corre
paralelo à nossa vida, o trem com sua estação de reencontros e despedidas. De
passagens para o socavão da chapada, na cidade do Crato ou para a infinita
planície marinha de Fortaleza.
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