TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE
sábado, 18 de abril de 2009
"Os que vieram depois"
Que momento é esse que não chega nunca,
e a nossa parceria vai sendo adiada?
Na rua do outro lado estão os que aguardam
o fim da fome e nos olhos têm desconfiança,
Sobretudo nas promessas de salvação
que há milhares de dias se acumulam
Sobre os escombros do tempo
sobre os ossos da memória
Aqui estamos, e há pouca luz nos telhados
o horizonte afunda com o sol
Cada homem vê o seu rosto com estranhamento,
sua boca deformada por escassez de palavras
Aqui estamos, nós que chegamos depois
e aguardamos a graça da simpatia em nossos pensamentos
Nós que perdemos o dom da revolta
a coragem de ser amigos,
Aqui estamos cada vez mais ausentes
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3 comentários:
Chagas, quanta razão nesse teu texto...adorei "aguardarmos a graça da simpatia em nossos pensamentos".
Pois é, o momento crítico exatamente isso: bocas deformadas, pouca luz nos telhados...e o texto chama a atenção para os do outro lado da rua desconfiados, relembrando a responsabilidade que nos pesa.
Mas seu tom otimista foi tudo.Eu também acredito nessa graça.
Um abraço.
Se o poeta fala dos que vieram depois e o depois nada acrescentou ao momento que nunca chega, é que a voz de sussuro da alma mantém a mesma chama sobre os ossos da memória, como um borralho sob cinzas, até um dia sem que se note, o dom da revolta surge.
[...] quando chegar o momento
do homem ser parceiro do homem,
pensem em nós
com simpatia.Marta F.,
Com esses versos acaba o poema Aos que vão nascer, de Brecht.
Escrevi o poema, como um dos que nasceram depois e herdaram um tempo sombrio. E o que é pior, não conseguiram desanuviá-lo.
José, o seu comentário em si já é um belo poema.
Abraços.
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