De
par com toda a carga simbólica que a envolve (a certeza de ter sido “útil” e de
não ter passado pela vida “em vão”), a “aposentadoria” deveria se constituir numa
espécie de merecido prêmio àquele que durante boa parte da vida “ralou” duro
para possibilitar o contínuo “giro da roda” e, conseqüentemente, o evoluir do
processo produtivo; e, como natural contrapartida, o desejável seria a formação
de um capital mínimo que permitisse ao aposentando um tranqüilo descanso mais
adiante (e/ou pelo menos a sobrevivência com certa dignidade).
No
entanto, não só no Brasil, mas, mundo afora, o tal do “capitalismo selvagem” (via
globalização desenfreada), literalmente “decretou” que apesar da “bagagem”
adquirida (conhecimento) e da experiência acumulada ao longo dos anos (o saber
fazer), aquele que se aposenta passa a ser uma espécie de “produto
descartável”, verdadeiro trambolho a obstar o progresso dos mais jovens e,
pois, passível de descaso e desrespeito por parte dos que “estão chegando” (a “meninada”).
Excluí-los, portanto, passa a ser a senha vigente; escamoteá-los, a palavra de
ordem; deletá-los de vez, uma necessidade.
Assim,
não tenham dúvidas de que a tão badalada “reinserção” do aposentado no processo
produtivo, cantada e decantada em verso e prosa, não passa, em verdade, de uma
miríade distante, verdadeira utopia (ou enchimento de lingüiça), porquanto as
barreiras para tal se apresentam a partir do momento em que o “carimbo” de
aposentado é aplicado àquele que passou a vida labutando com vigor (mas que ainda
assim se apresenta física e mentalmente apto à luta).
A
propósito, permitimo-nos dividir com vocês, aí do outro lado da telinha, a
magistral colocação da escritora francesa Viviane Forrester sobre os dois
momentos: aposentadoria (01) e pós-aposentadoria (02).
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Sobre
a aposentadoria:
“Tantas
vidas encurraladas, manietadas, torturadas, que se desfazem, tangentes a uma
sociedade que se retrai. Entre esses despossuídos e seus contemporâneos,
ergue-se uma espécie de vidraça cada vez menos transparente. E como são cada
vez menos vistos, como alguns os querem ainda mais apagados, riscados,
escamoteados dessa sociedade, eles são chamados de excluídos. Mas, ao
contrário, eles estão lá, apertados, encarcerados, incluídos até a medula. Eles
são absorvidos, devorados, relegados para sempre, deportados repudiados,
banidos, submissos e decaídos, mas tão incômodos: uns chatos. Jamais
completamente, não, jamais suficientemente expulsos. Incluídos, demasiado
incluídos, e em descrédito. É dessa maneira que se prepara uma sociedade de
escravos, aos quais só a escravidão conferiria um estatuto.”
Sobre
o pós-aposentadoria:
“Longe
de representar uma liberação favorável a todos, próxima de uma fantasia
paradisíaca, o desaparecimento do trabalho torna-se uma ameaça, e sua
rarefação, sua precariedade, um desastre, já que o trabalho continua necessário
de maneira muito ilógica, cruel e letal, não mais à sociedade, nem mesmo à
produção, mas, precisamente, à sobrevivência daqueles que não trabalham, não
podem mais trabalhar, e para os quais o trabalho seria a única salvação”.
Porreta,
não ???
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