Num ambiente em disputa a indulgência é seletiva e tende a
ser rara. No limite mesmo do julgamento do chamado mensalão (AP 470) há uma
questão de Caixa 2 inaceitável para a ordem tributária. Pela tecnicidade da
justiça o Caixa 2 tem penas menos amargas para os réus do que aquelas da Ação
Penal 470. Por isso o PT clama pelo Caixa 2, confessando fontes de financiamento
não declaradas. Assim como todas as rendas por fora de impostos de
profissionais da saúde, engenheiros, arquitetos, advogados e outras profissões
liberais além de comerciantes, traficantes e segue numa lista infinita. Além das
corrupções inconfessáveis e a indústria de lavar dinheiro que é o denominador
comum de tudo isso.
As frequentes Notas de Esclarecimento se igualam em
indignação contra a acusação ou suspeita, a defesa de suas ações expostas como
suspeitas e a desqualificação da fonte e do meio de divulgação das mesmas. É tão
frequente a igualdade entre elas que generalizam a suspeição em razão do
discurso padronizado que as iguala. O suspeito termina por evidenciar-se como
tal.
Mas estou falando da indulgência que do modo geral é um
grande ato humano, esse ser terrestre que por reter o pensamento abstrato, a
memória e ter a compulsão pela arte é tão especial e tão solitário em toda a
biota planetária. Para nos compormos com indulgência: a matriz da palavra
latina diz da entrega, da inclinação, propensão, do bom, benévolo, amoroso,
terno, complacente, transigente. Como todas as palavras a indulgência vai de um
extremo de aceitação ao da negação (dependente da história) entre seus
significados. O bom é universalmente aceito, mas para moralistas e intolerantes
a transigência e a complacência é um horror.
Então é que a indulgência como o atributo daquele com
disposição para perdoar é inegavelmente inerente ao cristianismo. Especialmente
ao Jesus humilhado, torturado e crucificado que se irradia como o perdão. “Mas
num ambiente em disputa a indulgência e....” tudo o que já se disse. Não se espere
para Genoíno, Dirceu ou Delúbio qualquer sentimento de indulgência natalina por
parte de alguém que simpatiza com a direita ou com o PSDB e seus aliados.
Mas a indulgência não foi arrancada do dicionário deste
referido alguém. Em seu universo afetivo, no seu patrimônio de aceitação,
especialmente se membro de alguma denominação cristã, está lá de ponta a
indulgência. O perdão. Aquele que nega ao inimigo ainda assim se encontra como
uma reserva para sua sobrevivência diante de tantas suspeições e denúncias que
o ambiente em disputa produz igual faz uma fábrica.
Mas precisamos encerrar esta nossa conversa: o Papa
Francisco cogita, em princípio, acabar com a famigerada venda de indulgência da
Igreja Católica que esteve na raiz da Reforma Luterana. E qual a indulgência
que o Papa cogita abolir? Aquela que se tornou um comércio e fonte de renda
para a Igreja: “no catolicismo, remissão
total ou parcial das penas temporais cabíveis para pecados cometidos, que a
igreja concede depois de os mesmo terem sido perdoados.”
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