Andando pelas ruas. Desta imensa teia humana. Idosos
cambaleantes pelas irregulares e estreitas calçadas. Crianças sonolentas com a
marcada mochila às costas. Uma jovem, de cabelos louríssimos (naturais ou
artificiais), masca, nervosamente, a borracha do chiclete, epilepticamente com
o dedo indicador sobre a tela touch
do palmtop.
O chiclete e a tela somam a alienação do mundo que
imediatamente a cerca. À frente um jovem adulto, em roupa social, lentamente
vai ao compromisso de trabalho, passos do preguiçoso despertar, cabelos
rarefeitos no topo da cabeça, anda com a mão esquerda enfiada no bolso da calça
e o outro braço fazendo o movimento auxiliar do caminhar.
A teia humana não é apenas um espaço urbano. É a trama do
organizar-se para ser no mundo. É o papel carbono que primeiro gera uma cópia,
se multiplica como mimeógrafo, uma gráfica, uma xerox e a viralização das redes
sociais. Como outro jovem, de abundante cabeleira, tão plena que a repartição
do penteado não fica ao lado, mas bem para o centro da cabeça. Anda acelerado,
em roupa social, com a mão esquerda enfiada no bolso da calça e outro braço
fazendo o movimento auxiliar do caminhar.
E pronto! A agricultura nacional foi entregue à Kátia Abreu.
Deu um nó no MST, nos eleitores de Aécio e em todos os admiradores ufanistas do
nosso agrobusiness. Sonham com a morte cruel da agricultura familiar e com o
incêndio de todos os acampamentos do MST. Os fabulosos latifúndios produtores
de commodities terão seus interesses garantidos. Não igualmente à era
escravagista da cana, tabaco e café, mas algo parecido, muito parecido.
Não agora. Na próxima semana. A equipe econômica anunciada.
O capitalismo estará salvo. Personagens comensais da elite do dinheiro estarão
sobre o comando da fazenda nacional, do planejamento estratégico e do banco
central. Todos os lobbies para fazer “a” ou “b” agora se calam e se sujeitarão
às forças “indicadoras” dos seus prepostos. Acrescente-se um Ministério da
Saúde que se estreitará ainda mais com o “mercado” do Planos Privados de Saúde,
uma educação superior com o PROUNI, saídas para fundir-se na mesma lógica
fiscal o público e o privado.
E temos o escândalo da Petrobrás que vai mexer em dóis
ícones da sociedade nacional: a mídia e as empreiteiras. A sequência de
escândalos é o atendimento de reinvindicações estrangeiras para que o mercado
se abra para empresas destes setores. Com todo mundo sendo pego no flagrante da
mamata no Tesouro agora é que os “interesses nacionais” receberão de fato a
concorrência internacional. Aliás a TV a Cabo já está dando conta do recado. O
inglês domina os programas infantis. Até personagens com o nome de ROSE são
escandidos num forçado sotaque.
Assim o PT afinal
chega aos termos da modernidade capitalista. Real. Tendo que atender à demanda
de uma sociedade cada vez mais sofisticada. Com expectativas mais elevadas.
Seguindo o modelo de outras sociedades que já chegaram por lá. E agora vamos
gozar as benesses do tempo prometido e jamais cumprido, que é viver plenamente
os sabores de um capitalismo avançado.
E avançado de tal maneira que logo mostrará o contraditório
de seu espírito animal. Da busca incessante pelo lucro e acumulação. Onde os
direitos trabalhistas estarão sob ataque. Pela terra feita de uma realidade
afinal pronta e acabada, onde ilusões não serão mais cabíveis, onde o futuro
não estará lá para nos entreter. Estaremos todos vivendo às margens do “Muro de
Berlim” aquele que separa com pedras e armas a divisão entre pobres e ricos.
A realidade do capitalismo, afinal pronta, é a senha teórica
da luta política pela superação do muro, para a luta pelo socialismo. E pensar
que tanta gente, achava que votar na Dilma e não em Aécio, também era uma
aposta do avançar, ao invés dos acordões da velha sociedade brasileira. Acontece
que o reacionário brasileiro sempre teve esta característica anticapitalista.
Armínio Fraga, que Aécio embandeirou, não passa da velha elite privilegiada,
que precisa aplicar seus capitais em rentáveis negócios, anticapitalismo
financista.
Afluentes e efluentes do grande e estagnado lago do
latifúndio, do emprego estatal, do clero patrimonialista, das forças armadas,
da exploração infinita dos pobres e de uma tradição fortemente atrelada à
memória escravagista, os reacionários têm horror à evolução capitalista. Isso
não é contraditório, nem apenas brasileiro, toda a América Latina, setores
atrasados nos grandes centros capitalistas, na África e na Ásia. É a luta entre
o século XIX e o século XXI. Aliás certas bandeiras e argumentos são tão
arcaicos que lembram a idade média com sua monocracia coroada.
E ao falar de anacronismo, não se tenha por certo uma ação
política absolutamente irracional. Este reacionarismo brasileiro sabe pegar as
mais avançadas bandeiras do capitalismo para consolidar a grossa capa oxidada
de sua realidade. O liberalismo é uma teoria capitalista da primeira ordem. Uma
dinâmica em que tudo seria virtuoso (sabemos que não) no mais avançado que se
pensou para esta. No entanto, o neoliberalismo é mais anticapitalista das
práticas reacionárias. Com ela os privilégios se tornam inamovíveis. Eternidade
é o desejo de toda doutrina em processo de mortalidade.
Vejam agora as bandeiras neofacistas pelas ruas das
capitais. Agora o neoliberalismo brasileiro, “aeciano”, “fernandohenriquiano”,
do além, muito além de tenebrosas negociações, não pode mais se travestir de
luta capitalista. Não precisa o PT, o PSB e tantos tributários mais, já o fazem
com mais vigor e mais senso de oportunidade. Resta agora, a “face negra” deste
neoliberalismo adotando a bandeira do privilégio de classe com as capas das
revistas Veja e “outras mumunhas mais”,
do mais atrasado que o atraso paulista já conseguiu formular em matéria de
pensamento.
Por isso tudo, Dilma e o PT prometem o capitalismo pleno. É
a vez dele. Com suas virtuosidades inclusivas até os limites impostos pela
acumulação. E como esta acumulação que cria o “Muro de Berlim”, já está em
curso, agora é o início da formulação de suas contradições e superação de suas
incapacidades. A grande materialidade da luta pela solidariedade humana, pela
racionalidade evolutiva, pelo progresso redistributivo, pelo socialismo.
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