Hoje à noite comemora-se! Um intervalo de tempo. Que por
vezes adquire uma personalidade substantiva: o ano. Que assim se põe a receber
qualificativos: ruim, bom, tomara que passe, o que virá, como será o outro ano?
O Réveillon dos
franceses nos é um toque de impressão da dominância cultural. Na época em que a
França nos influenciava. E a palavra Réveillon
é uma composição de “retour a la
veille”. Ou seja, o retorno à véspera. Acordar para o novo tempo.
Neste retorno os governos do Brasil e dos Estados assumirão
um mandato eleitoral. Não é uma ruptura com o passado. É uma passagem,
projetada, do que aconteceu nestes últimos momentos do dia 31 de janeiro.
Mas, então, esta unidade organizativa, que é o ano
calendário, serve de marcação para que as remadas no barco da vida sigam um
determinado ritmo. Uma determinada velocidade. Um curso definido.
Mas é apenas organização. A vida é um contínuo de tempo se é
a ele que temos atenção. Um espaço de vida onde se faz nele o que chamamos
tempo. De modo que a contagem é mera ilusão, enquanto o que fazemos, os
sentidos e significados que imprimimos, as decisões e posturas que tomamos é
quem de fato se encontra no espaço do tempo do sol.
E nesta ação, que envolve a consciência de cada um, temos o
bate pronto ou aquilo que é muito refletido, a longa decisão, pois afinal é este
intervalo entre o perceber e o agir e ele é relativo. De qualquer modo este
intervalo (se demorado ou não) e o conteúdo da ação é quem entrará no contador
da consciência de cada um.
Duas coisas são certas. A primeira: eu quero ser mortal. Num
mundo em que tudo que amo o é, porque quereria me prolongar além delas. A
mortalidade delas impregna-me de um suave caminho de igualmente seguir. Não por
vontade própria. Mas por ser o curso necessário de igualar-me a elas. E o mais importante,
mesmo mantendo a crítica ao diferente, sempre a gravidade da igualdade me
aprisionou.
A segunda: entre os próximos se encontra o desejo de
igualdade, de solidariedade, de dançar a mesma valsa da história. Não tem
sentido qualquer a pregação do socialismo, do campo da liberdade, do amor ao próximo,
se aqueles com quem dormimos e acordamos, parecem o tédio da existência.
Na pia onde as nossas escovas se cruzam, o acordar é o desejo
de viver. A seguir na sala, na cozinha e de porta a fora onde houver gente e
sentido da igualdade e da liberdade.
Assim neste contínuo entre 2014 e 2015 o desejo
maior que posso anunciar é se tenha igualdade e liberdade. Não como moeda de
valor, mas como essência desses segundos onde a capilaridade do nosso ser
acontece.